domingo, 20 de junho de 2010

Chega o calor e com ele as carraças


A carraça, quando portadora de micróbios, constitui um perigo para os nossos cães e também para a saúde pública.


O aumento de animais de estimação e, fundamentalmente, o sucessivo e crescente abandono de cães e de gatos, constituem factores decisivos para a proliferação deste parasita. Esta situação tornou-se deveras preocupante, não apenas pelo incómodo que a carraça causa ao animal, mas principalmente pelas doenças que lhe pode transmitir ao picá-lo, quando portadora de micróbios, vírus, ricketssias e outros agentes.

Essas doenças são a erlichiose e a babesiose.

No homem, a picada também pode provocar doenças, como a chamada “febre de carraça”.

Aqui, neste texto, vamos tentar conhecer o parasita um pouco mais de perto, no sentido de encontrarmos meios mais eficazes de o combater e de controlar a sua disseminação.

O que é a carraça?

A carraça é um ectoparasita que usa uma vasta gama de hospedeiros para se alimentar através do seu sangue: equinos, suínos, cães, gatos, ruminantes, aves, roedores, etc.

Das cerca de 800 espécies que há em todo o mundo, em Portugal existe uma dezena e, dentro deste grupo, há especialmente duas espécies que merecem a nossa atenção por serem as que parasitam os nossos cães. Vamos muito sumariamente classificá-las com base em aspectos morfológicos básicos, assim:



 Carraças "duras", em que a cutícula que as reveste é dura. Esta espécie assemelha-se a um “vulgar” insecto, tipo escaravelho.













Carraças "moles", em que a cutícula é mole. Esta espécie fixa-se de preferência nas orelhas dos animais e incha quando fica repleto de sangue, assemelhando-se a um feijão.







Ciclo de vida



0 ciclo de vida da carraça divide-se em 4 fases de desenvolvimento: o ovo, a larva, a ninfa e o adulto.

Um único hospedeiro pode ser parasitado por todos estes ciclos de vida da carraça.

Uma carraça adulta pode criar milhares de ovos, que se libertarão do hospedeiro caindo no solo e aqui se desenvolvendo, se encontrarem condições propícias, que são preferencialmente zonas de vegetação de baixa ou média altura e com algum grau de humidade.

Como se “ganham” carraças?

As carraças atingem o corpo do cão por contacto directo. Como não voam nem saltam, normalmente instalam-se nas ervas e nos arbustos e esperam que o seu futuro hospedeiro passe e roce essa vegetação, dispondo para o efeito de uma sensibilidade especial que lhe permite detectar a aproximação e passagem da vítima.


Como evitar a infestação?
Infelizmente, não há nenhum esquema de tratamento preventivo. Se o cão frequenta áreas infestadas por carraças, ele certamente ficará sujeito a apanhá-las. As zonas com vegetação rasteira e arbustos são as mais arriscadas. No entanto, elas podem existir nos pavimentos, nas frestas de muros e, assim, durante um passeio a uma praça ou um jardim público, o cão pode infestar-se. E o mesmo pode acontecer nos nossos quintais ou jardins privados, se a desinfestação não tiver sido feita de forma integrada.


Como combater a carraça?

Tal como acontece como as pulgas, a carraça não deve combater-se apenas no corpo do animal, mas também no ambiente.

Em todos os seus estágios de vida (desde larva até adulto), a carraça é muito resistente. Por isso, é muito difícil combatê-la.

Eliminá-la do cão é relativamente fácil, seja catando-a com uma pinça* ou através de antiparasitários específicos. Mas as formas invisíveis do seu ciclo de vida, os ovos e as larvas, permanecerão no ambiente e nele sobreviverão durante muitos meses se não forem tomadas medidas adequadas.

(*) Quando se usa uma pinça para arrancar a carraça, deve ter-se o cuidado de usar previamente álcool ou éter para “adormecer” o parasita. É que este usa umas garras para se fixar na pele no cão e estes líquidos, para além de desinfectarem a picada, ajudam a sua remoção. De outra forma, à força, o parasita é retirado mas as garras ficam agarradas à pele, podendo causar uma infecção posteriormente.


Em relação aos espaços públicos, quaisquer medidas a nível individual são ineficientes. A solução mais sensata para evitar que o cão apanhe carraças consiste em evitar levá-lo para locais infestados. De qualquer modo, se tal não for possível, deverá efectuar-se uma inspecção a todo o corpo do animal ao regressar-se a casa.
Em muitos casos, como se referiu, as carraças andam no solo e agarram-se às patas, pelo que não se deve deixar de vigiar essas zonas, inclusive entre os dedos.

No nosso ambiente doméstico, seja dentro de casa ou no jardim, todos os locais deverão ser desinfectados com insecticidas apropriados, mas tendo sempre especial atenção que esses produtos não venham a intoxicar o animal.

Parasiticidas

Por mera questão de princípio, não vou indicar marcas de produtos, os quais, aliás, devem ser receitados pelo veterinário assistente.

Encontram-se à venda no mercado variados produtos para o combate das carraças, tais como líquidos, sprays e colares. Mas não caia na tentação de os usar indiscriminadamente ou por mero conselho do responsável da loja ou de um amigo ou conhecido. Nunca dispense o conselho do veterinário, que lhe poderá indicar não só o produto mais adequado como também o método mais eficaz para combater o parasita.

Alguns parasiticidas combatem tanto as pulgas como as carraças e, basicamente, são os mais recomendados para não sujeitar o animal à toxicidade destes produtos, que é sempre prejudicial.

Nisto, como em tudo, deve haver um equilíbrio. Combater os parasitas, sim, mas não dar cabo da saúde do cão. Estes produtos são concebidos para não causarem danos graves ao animal mas, quando em excesso, poderão ser mesmo muito prejudiciais.

Não esquecer que muitas das substâncias tóxicas que compõem os parasiticidas são acumulativas, isto é, o organismo não se desembaraça delas na sua totalidade, agravando-se a dose de tóxicos absorvida pelo organismo com as sucessivas aplicações.

Doenças transmissíveis
Só as carraças portadoras de agentes infecciosos transmitem doenças ao cão: a erlichiose e a babesiose.

As carraças portadoras desses micróbios (protozoários - seres unicelulares microscópicos), transmiti-los-ão aquando da picada destas no animal. Estes protozoários vão "colonizar" os glóbulos vermelhos e/ou as células mononucleares do hospedeiro provocando, após um período de incubação de 1-3 semanas, sinais de doença.

Assim, as carraças devem ser removidas o mais rapidamente possível de forma a limitar o tempo de transmissão dos agentes causadores de doenças, pois não há forma de determinar se elas são ou não portadoras desses agentes infecciosos.

Ter também em atenção que basta uma ou duas carraças portadoras dessas formas infectantes para que o cão contraia uma dessas doenças.

Assim, a vigilância deve ser constante e qualquer sinal de apatia, febre, falta de apetite e mucosas (gengivas ou conjuntiva) pálidas em cães que costumam ter carraças, é motivo de uma visita ao veterinário que, através da análise sanguínea, poderá detectar a Babesiose ou a Erlichiose. Estas doenças são tratáveis mas quando diagnosticadas a tempo.

Vamos prevenir para evitar que o nosso amigo fique doente, uma visitinha ao veterinário nesta altura do ano evitará decerto despesas maiores mais tarde e sofrimento ao nosso amigo de quatro patas.
aquele abraço e até breve

 fonte: http://whippetp.no.sapo.pt/carracas.htm